domingo, 31 de outubro de 2010

flôr

tenho saudades de te ver abrir
num movimento doce
num sereno levantar das pétalas
tenho saudades de te sentir

vejo-te nesse movimento em cada folha
num caude inocente
na flôr no meio do nada
vejo-te nesse movimento em cada néctar que voa com a abelha

quando te moves delicadamente
sinto vontade de te agarrar
sinto vontade de te libertar
quando te moves a tua silhueta não mente

és unica, é certo...
és a planta que cresce sozinha no deserto
que dá vida ao mundo sem afecto

3 poemas sobre a cidade...

Sabes que não devia

Ter dito sem pudor

O que sentia

Nem pôr cor

Ao pedido

De ficares aqui comigo

Desculpa-me o feitio

Neste teu passeio escorregadio

Que é o amor…

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Falta alguma coisa em ti

Sim, eu sei

Longas são as noites…

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Logo ali deitado

Num verde banco de jardim

Totalmente encolhido

Totalmente envolvido

Fetalmente protegido

Em momento algum estive só

Estou contigo, cidade

Envolve-me, abraça-me, acaricia-me a pele

Deita-se e levanta-se ao meu lado

Já não sonho

Essa fantasia não me faz falta

Vivo outra realidade que me basta

Vivo a verdade

Vivo a cidade

Em momento algum estive só

Estou com a cidade

Sinto-a, cheiro-a, oiço-a

Vivo-a e choro…

Os outros

Numa espiral de corpos

Nervosos, suados tremem

Colidem enraivecidos

Rodam para o negro

Com medo

De um escuro infinito

Nem um grito

Os faz parar

Já é tarde para os separar

Respiram o pó

Cegam com as palavras

Negam os sons desconhecidos

Inventam medos e caminhos

Negam passados escritos

Só para serem conhecidos

Não abrem os olhos

Nunca ouvem

Pouco dizem…

N

Quando a noite cai,

nós vagueamos pelas ruas

e olhamos os cadáveres

bêbados e drogados

criminosos e alienados

com as entranhas de fora

riem e choram

gritam e susurram

os cadáveres…

E nós vagueamos, vagueamos uns atrás dos outros

Meio mortos, semi-vivos…vagueamos…

é quando o sol sobe e tapa a lua

e chega mais um dia, novo dia

igual ao ultimo, ao outro e ao outro

mas a luta continua…

Despedida

Quando me olhares as costas

Cerrares os olhos contra o sol

Não chores, não deixes cair uma lágrima

Que eu vou a sorrir

Com o peito cheio

De memórias infindáveis…

E quando o sol bater no chão

Eu do tamanho de uma formiga

Não digas adeus,

Nem grites para que me vire…

Que eu não vou a olhar o chão que piso

Olho de frente a lua que no alto está

Vou encher o corpo da cabeça aos pés

De histórias memoráveis…

Quando já não me avistares

E a noite escura cair

Dorme, descansa meu bem…

Vais sentir que o nosso amor vai ficar no mesmo piso

O nosso canto vai ficar mais bonito

No dia que nos encontrar-mos

Numa qualquer praça, esquina ou travessa

Rua, avenida ou viela…

Olha-me bem nos olhos que viste partir

Porque sou eu…

Mais triste por aquilo que vi

Um mundo abatido sem força para se erguer

Mas vim-te buscar

E trazer a felicidade de um encontro

De duas pessoas

Com memórias memoráveis…